Vou tocar em um assunto delicado e polêmico, que tem deixado muitas cabeças ouriçadas, a respeito desse assunto. Governo, empresários, artistas e consumidores finais defendem cada um, as suas posições, os seus argumentos, e todos eles, são contrários e conflitantes, e sempre acaba caindo num grande impasse. Mas uma coisa é certa: a pirataria tem causado grandes problemas e prejuízos na indústria da mídia em geral, que ainda usa a forma arcaica de arrecadar direitos autorais. A internet é vista como a maior vilã desse mercado, pois é de lá que são as principais fontes de pirataria.
Segundo os empresários da indústria fonográfica, a pirataria é um grande problema, pois ela deixa de arrecadar milhões, com a mesma pirataria. Milhões investidos na preparação doa artistas e divulgação do trabalho dos mesmos (na maioria das vezes, nem sempre é o artista, pois é comum os artistas serem o produto da mídia), deixam os negócios praticamente inviáveis e não se tornam rentáveis. Mas os mesmos empresários não percebem que a maior fonte de lucro são shows (no caso dos músicos) e cinemas (no caso dos filmes). Mesmo com a pirataria correndo solta, as pessoas ainda têm um grande hábito de irem aos shows e cinemas, o que ainda leva a crer que os mesmos podem ainda lucrar com isso e lucram muito bem.
Segundo o governo, com a pirataria, o mesmo deixa de arrecadar impostos, vindos desses mesmos empresários que investem na chamada economia criativa, ou melhor, os magnatas do capitalismo da mídia. O governo ainda argumenta que a pirataria financia a criminalidade, pois quem vende mídias pirateadas, também vende drogas nas favelas, o que não é totalmente procedente. Alguns governos, como Brasil, por exemplo, mantém autarquias sobre entidades, que fazem o trabalho de cobrar dos cidadãos comuns (ECAD), o que estas mesmas entidades chegam a cobrar abusivamente, de forma arbitrária, e o pior: nem sempre repassam os valores para os autores. Podemos ver que tanto o governo, quanto os magnatas do capitalismo da mídia, estão atrasados em relação à evolução tecnológica-social que anda alavancando, e os mesmos não podem controlar essa evolução.
Já os artistas (artistas mesmos, não produtos de magnatas do capitalismo da mídia, pois os mesmos pensam como os magnatas), os mesmos estão divididos nesse assunto. Alguns até não se importam, pois entendem que pirataria é de uma certa forma, um sinônimo de sucesso, seguindo a famosa Lei da Oferta e da Procura (ou pode-se chamar Lei da Oferta e da Demanda). Eles até admitem, na maioria, que a pirataria prejudicaria um pouco, pois recebem menos do que receberiam, por parte dos empresários as entidades cobradoras de direitos autorais (às vezes, essas mesmas entidades nem passa os valores para os artistas). Mas há artistas que são independentes, que arrecadam mais com shows e outros serviços que prestam para o público.
O consumidor final, o público, geralmente reclama dos altos preços das mídias que compram em mercados legais, o que muita das vezes fazem recorrer à pirataria. Isso sem falar da dificuldade em encontrar o seu produto, mas isso não entra em questão. Mas vale entender que os preços das mídias, realmente são caros demais. E os mesmos magnatas do capitalismo da mídia dizem que os preços são altos, por conta da pirataria, o que não acredito muito.
Nesse meio do jogo, o consumidor final, e para que a perda não seja significativa, recorre à pirataria, onde os mesmos empresários e o governo, tomam prejuízos, tornando ainda mais onerosos o acesso à mídia, criando o círculo vicioso. E nesse jogo de empurra-empurra, quem realmente perde, é o artista, ou seja os autores das mídias, a massa criativa. Pirataria realmente traz grandes problemas, sim, de fato, mas o artista que depender apenas de distribuição das mídias, realmente vai acabar perdendo. O grande problema nisso tudo, é que o mercado criativo não está acompanhando a evolução tecnológica, e obriga a todos a pensarem como os magnatas, que preferem viver na Idade da Pedra.
Então, por que existe a pirataria? Por que a pirataria é dominante? Justamente por tudo isso, jogos de interesses de mentalidades atrasadas dos magnatas do capitalismo da mídia, contra o pensamento evolutivo do consumidor final, que na verdade, quer ouvir as suas músicas preferidas, seja em qualquer mídia, em qualquer dispositivo. A pirataria não existe somente nos tempos atuais da internet, existia muito tempo, desde os tempos das fitas K7, em que as músicas eram copiadas das estações de rádio (o que hoje em dia, é entendido como uma forma de pirataria, pois está copiando sem autorização das gravadoras), para uso pessoal, e raramente eram comercializados. Com o advento do CD-ROM e internet, isso se tornou ainda mais evidente e mais claro.
Não é aplicando leis severas como SOPA, PIPA e ACTA, que vai resolver o problema da pirataria, isso vai acabar criando muitos outros problemas, como a restrição da criatividade coletiva, e o fim da essência da internet, o sentido da comunidade global, uma rede democrática. A internet possibilitou ao artista caminhar com suas próprias pernas, não ficar dependendo dos magnatas do capitalismo da mídia, que querem restringir ainda mais, a criatividade coletiva. Bem lembrar que, quem provoca e alimenta a pirataria, são os próprios magnatas. Como diz uma certa letra de samba-enredo, há piratas se queixando de piratas, de terno e gravata na televisão.