Quando uma pessoa pensa em cometer um suicídio, não significa que ela não tem mais amor à vida, significa que ela não está mais suportando a dor com que ela está passando. O suicídio é o momento mais crítico, o cúmulo do abandono, da depressão, da rejeição de si mesma, ainda que seja causada por terceiros. Uma pessoa comete suicídio, quando ela acha ou percebe que ninguém a ama, ninguém quer o seu bem, quando ela percebe que sua vida não tem jeito ou não tem mais solução e nem mesmo um ombro amigo tem para consolar. A depressão, como muitos devem saber, ela às vezes pode ser enganadora e mentirosa. É claro que a luta deve ser diária e depende muito de si própria para que a vitória seja alcançada, mas no meio do caminho, esta pessoa terá de passar por uma penca de preconceitos, especialmente de pessoas mais próximas, como amigos, familiares e entes queridos e principalmente às vezes precisa se confrontar com a fé.
Muitos devem achar que quem comete suicídio é uma pessoa covarde. Bem, pode ser, mas é um ato de extrema coragem, tirar sua própria vida. Mas não podemos entender como ato de coragem, nem mesmo um ato de covardia, mas um ato de desespero. Vivemos em uma sociedade em que todos se esforçam para serem perfeitas, ou seja, serem iguais a todo mundo, onde as pessoas julgam desesperadamente, sem conhecer, sem medir consequências de tamanho ato que fazemos o tempo inteiro. Vivemos em uma sociedade onde existem mais magistrados do que amigos e ao mesmo tempo, todos procuram fazer de tudo para escapar de julgamentos alheios. Não há como julgar os próximo, sem ser julgado. Isso é a verdade absoluta, o próprio Jesus disse isso no evangelho. Sempre haverá três dedos apontando para você, quando você aponta um dedo para o outro. Então, numa sociedade feita de pessoas normais, preferimos julgar as pessoas, ao invés de estender a mão e ajudar.
E claro que isso não torna diferente, para quem sofre de depressão. Além de citados preconceitos, achando que a depressão é coisa de gente fresca e mimada, deveríamos na verdade, sentar e conversar com a pessoa que sente esta depressão. Quando a mesma posta nas redes sociais que deseja nada além que a morte, que está querendo dizer adeus ao mundo, a sua própria vida, ela na verdade não faz isso unicamente para fazer show ou quer apenas aparecer, ela na verdade está implorando pela ajuda, esperando uma pessoa convencer a mesma de que a vida vale a pena, ou seja, que vale a pena seguir em frente e que existem motivos para tal. E quando ela não a encontra, ela acaba abraçando a morte, o que infelizmente, não encontra a felicidade no outro lado.
E por falar em outro lado, o que o suicida irá encontrar no outro lado? Bem, se olharmos os textos, sejam eles católicos, evangélicos, muçulmanos (salvo em alguns casos, segundo os extremistas), budistas e até mesmo espíritas, você verá que não é coisa boa, ou seja, verá nada de bom. Posso até concordar com o que eles dizem, mas o que esperar de certos líderes religiosos (infelizmente são a maioria), que usam o nome de Deus, para provocar medo e pavor nas pessoas que a seguem, ao invés de promover o amor, compaixão e misericórdia para com próximo? As pessoas depressivas ou com tendências suicidas, às vezes procuram estas mesmas instituições religiosas para poderem se livrar daquilo que tanto causa angústia e sofrimento sem fim. A religião, fundada e formada por homens, como uma forma de enxergar a Deus e poder se comunicar com Deus está sendo usada muitas vezes de forma errada, geralmente o oposto do que fora pregado em seus livros sagrados e em suas doutrinas, se tornando verdadeiros antros de hipocrisia. E quando nem mesmo a religião tem sido a solução para seu desespero, ela acaba não encontrando outra coisa, a não ser o precipício.
A pessoa que quer cometer suicídio não quer saber se no outro lado vai ter um encontro diretamente com Satã, se vai sentir seu corpo sendo corroído por vermes, sofrer um inferno, para em seguida se reencarnar com deficiências físicas e/ou mentais. Uma pessoa que senta-se diante de um precipício, prestes a se atirar nele, quer nada mais, nada menos que uma ajuda. O suicida quer sair do sofrimento e da amargura que domina todo seu corpo e sua alma. A pessoa quando quer cometer o suicídio, ela sente que está se sentindo um peso morto na vida das pessoas, um coisa desnecessária na sociedade, que não tem necessidade de ficar existindo. Aliás, se ela vai sentar no colo do capeta, talvez ela não vai se importar com isso, ela vai achar que no colo de alguém está sentado, pois todos que ela conheceu em vida, recusaram-se a oferecer o colo para ela, enquanto esteve viva, quando ela muito precisava. Imagino que a pessoa deve achar que nem mesmo Deus foi capaz de consolar, nem mesmo de um colo, o quanto ela deve ter implorado o amor divino em sua vida.
Mas talvez tenha razão, pois por mais que o suicida tenha achado que Deus tenha abandonado em sua vida, na verdade, foi ela que abandonou a Deus. E ela é unicamente culpada disso tudo? Talvez não. Talvez seja de quem mostrou Deus de forma errônea, um tipo de Deus vingativo, severo e que causa medo e terror a qualquer um que ousar desobedecer. Por que não mostrarmos um Deus misericordioso, manso e humilde de coração, que não veio para os são, mas os que estão doentes. Precisamos acordar pra vida e não devemos levar tudo a ferro e fogo. O mundo precisa de mais amor e é justamente essa falta de amor, que faz milhares de pessoas se jogarem da janela do quinto andar, enrolarem cordas em seu pescoço, cortarem seus próprios pulsos, ou ainda, mergulhar em precipício. Eu diria que se um mundo fosse cheio de amor, com toda certeza do mundo, eu diria que não haveria suicídios neste mundo. Vamos parar de julgar e passar a estender a mão ao próximo.
Agora, se você que está lendo este texto e pensa em cometer o suicídio, eu peço que pare de fazer isso. Se você leu até aqui, pode ter certeza de que está mesmo precisando de ajuda. Procure seus amigos de verdade, pessoas que se importam de verdade com você. Você não está aqui a passeio, nem mesmo é uma carta fora do baralho. Sei que muitos podem ter dito isso a você, mas você precisa parar com isso. Ame a si próprio, perdoe a si mesmo e ainda por cima, procure um profissional qualificado (psicólogo, psiquiatra) para que ele possa te ajudar a superar isso. Levante-se, não para mergulhar no precipício, mas para seguir um novo caminho. Você precisa em primeiro lugar se livrar de quem te faz mal. Sugiro que leia outros textos sobre a busca do sentido da vida, aqui mesmo no Baú do Valentim, e veja que assim como você, também passo pela luta. Se tivermos que encontrarmos com a morte, que devamos encontrar com dignidade, não com desespero. A morte não é a solução para os sofrimentos e a mesma morte não aliviará os seus sofrimentos. Que o amor, ainda que escondido, esteja sempre com você, e que o amor próprio possa preencher todo o vazio que há em ti.
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