A Poetisa de Tinguá

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Sob a luz da lua, sempre penso em você!
Sob a luz da lua, sempre penso em você!

Era noite fria de setembro, sob o brilho da lua cheia, quando uma bela poetisa estava sentada no meio da praça principal de Tinguá. A noite era alta, o lugar, silencioso e praticamente todos da cidade estavam dormindo. O último ônibus do dia que vai para Pavuna, já tinha acabado de sair. Mas ela estava lá serenamente com seu caderno surrado e uma caneta de tinta preta, esperando que a sua senhora inspiração lhe fizesse uma visita, e que possa transformar o momento em poesia.

 

Ela olha para suas mãos, passa a mão no seu rosto e percebe que o tempo não é mais generoso com ela. Ela não é mais aquela linda jovem que atiçava mentes criativas e imaginárias, que faziam sussurrar todas as noites. Não é mais aquela menina que brincava nas fazendas e nas matas iguaçuanas. Naquela época, ela jamais imaginava que chegaria a esse ponto. Aquilo foi como um golpe fulminante em seu ego. Foi então que ela percebera que era o fim de sua época, que ela mesma chamava de época de ouro, uma época onde ela podia experimentar as coisas boas e intensas da vida.

 

Ela respira bem fundo, olha para a lua e percebe que ela sempre esteve ali: imponente, jovem e bela, como ela sempre foi. Declara-se para a lua, a sua inveja que tem para o astro-mãe e pensou em si mesma, que queria ser como ela. Ela cai em si, olha para o seu interior e percebe quão bela ela é, e quanto ela sempre foi. Uma beleza que pouquíssimas pessoas foram capazes de perceber, e ela, por pura vaidade ou orgulho, as menosprezou. Suas lágrimas começam a cair e ela chora profundamente, arrependida de ter desperdiçado seus melhores amigos em nome da alegria passageira que as noites e os finais de semana oferecem. Depois de enxugar suas lágrimas, ela pega a caneta caída o chão e começa a escrever sob as luzes fracas emanadas do poste e da lua.

 

Ao terminar seu poema, ela fecha seu caderno e olha para a Tinguá, vazia e deserta, com apenas poucas pessoas vagando, vindo de seus compromissos em Nova Iguaçu ou no Rio de Janeiro. Ela começa a sentir o frio da madrugada e o orvalho caía sobre a cidade. Ela arruma suas coisas e caminha para sua casa. No caminho, ela depara com um boteco aberto com alguns bebuns se exaltando ao som de um conhecido grupo de forró. Ela diz para ela mesma se esses homens com cheiro forte de álcool destilado não podiam estar curtindo com seus filhos, com sua esposa? A poetisa lembra que não tem marido, não tem filhos e não tem família e lembra mais ainda que seu tempo acabou, o que deixa mais triste.

 

Ela segue seu caminho para casa, pela rua deserta até chegar a sua modesta casa. Deixou suas coisas na mesa da sala, e foi até a cozinha preparar dois mistos quentes, e pegou um copo para beber refrigerante tubaína. Ela pega a cadeira da sala, veste a sua jaqueta e faz a sua refeição ali mesmo, na varanda. É exatamente como ela costumava jantar quando era adolescente, em que morava na Pavuna. Depois de se deliciar com sua simples e humilde refeição, coloca o prato e o copo na sacada da janela e finalmente, volta a apreciar a natureza de Tinguá, onde os ventos estão acariciando as árvores e os arbustos sob a luz do luar. Ela volta o tempo, para o tempo em que passava as tardes correndo e rolando no meio destes arbustos, e do belo verde que este lugar oferece. Ali, ela dormiu e sonhou como pequeno anjo.

 

O imponente sol surge no local, majestoso, trazendo a luz. Para alguns era o sinal de acordar para ir a mais um dia de expediente, para outros, era mais um dia de sentar nos bancos de cadeira e ouvir uma pessoa diante de uma tela escura. Mas há pessoas que tem um dia de alegria, de descanso, mais um dia de alegria. Mas para ela, para a poetisa, é o dia para recuperar o que foi perdido, o dia em que começa a nova fase de sua vida. Ela acorda ao som dos galos da vizinha, se arruma, toma seu relaxante banho, e vai até a padaria perto de sua casa, onde compra meia dúzia de pães quentinhos. Ela costuma comprar dois, já que ela mora sozinha, mas hoje ela resolveu comprar seis. Por que ela fez isso? Nem mesmo ela sabe.

 

Na mesa de sua casa, ela come o pão ainda quente e um copo de café com leite. Ela pensa em assistir a televisão o dia todo, mas ela decidiu de última hora em voltar para a praça, com seu caderno surrado e caneta, pensando em escrever mais uma poesia. Ela volta para praça e olha novamente para o boteco. Ao invés de bebuns extasiados com a música do sertão, lá se encontra trabalhadores se preparando para mais uma longa jornada de trabalho. Nenhuma música estava tocando naquele lugar. Ao chegar da praça, ela vê o local bastante movimentado e não deserto, como era ontem à noite. O sorriso começa a estampar naquela jovem senhora que se esquecera das rugas, que acabaram de surgir e da idade que está começando a avançar. Ela se aceita e decide viver na sua maturidade.

 

Ela observa pessoas indo aos seus compromissos, mas ela observa também há jovens fugindo de seus compromissos, quando ela percebeu que estão uniformizados, já que deveriam estar na escola ao invés de estarem ali. No meio desta multidão, ela reconhece uma bela loira de olhos verdes de altura mediana, uma grande amiga, que com ela, viveu as aventuras na adolescência. Ela seria perfeita para poder começar a recuperar seu tempo perdido. Ela a chama pela primeira vez, mas não a atende. Ela ousou em aproximar para chamar e as duas finalmente se reconhecem. Elas se lembram dos tempos em que curtiam juntas as aventuras transviadas. No fundo elas estão em busca de uma nova vida, uma nova visão para viverem felizes.
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Analista de Sistemas e Escritor

Uma pessoa que está sempre disposta a acreditar nos sonhos, no amor e na felicidade até as últimas consequências. Sou proprietário e editor-chefe do Baú do Valentim.

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